Há dez anos, o Juventus conquistava o único título profissional em seus quase 48 anos de história. Era a terceira divisão do futebol catarinense, na ocasião apelidada de Série B1. E a equipe comandada pelo ‘Chefe’ Itamar Schulle fez história no futebol barriga verde, ao passar 23 jogos sem conhecer o sabor de uma derrota. Acredita-se que este seja o recorde de invencibilidade no futebol de Santa Catarina.
O capitão do Moleque Travesso na ocasião era Giovane Fleck, um meia clássico, do estilo cerebral. Porém, quis o destino que o dono da braçadeira na decisão contra o Brusque, no Estádio João Marcatto, fosse o zagueiro Acássio Aparecido Rocha, um paulista de Maracaí, com alma jaraguaense. Foram as mãos de Acássio que levantaram o troféu de campeão, eternizando seu nome na história do Grêmio Esportivo Juventus e do esporte de Jaraguá do Sul.
“Foi gratificante. O Juventus estava parado há muito tempo. Então vieram os jogadores do Apucarana e do Nacional para formar o time comandado pelo Itamar Schulle. E começamos do zero. O estádio estava abandonado, mas a gente confiava. Logo na primeira partida goleamos o Internacional por 6 a 1, com apenas quinze dias de trabalho. Depois daquilo a equipe engrenou e ficamos três meses e vinte dias sem perder”, relembra.
“A partir dali o torcedor voltou a acreditar e aquela alavancada foi o momento de glória do Juventus aonde, até o ano de 2007, o time era respeitado e difícil de ser batido no João Marcatto”, acrescentou o atleta, que deu os primeiros chutes na bola em uma escolinha mantida pela Usina Maracaí, onde seu Pai trabalhava. Foi profissionalizado no Vocem, de Assis (SP), ganhando o Mundo na sequência.
Só em Santa Catarina, honrou as cores de cinco clubes: Fraiburgo, Internacional, São José e Caçador, além do tricolor jaraguaense, equipe que defendeu em mais ocasiões na sua carreira (2004/2005/2006/2008/2013 e 2014), atuando em cerca de 80 jogos e marcando oito gols. “Fui um cigano da bola. Rodei por vinte e cinco times e hoje, infelizmente, chegou o momento de parar. Não é aquele momento que o jogador espera, mas tinha que ser em um time onde fui bem acolhido. Estava traçado, escrito de encerrar a carreira aqui no Juventus”, profetizou.
Então, aos 35 anos, o capitão Acássio encerrou sua carreia como atleta profissional. Não por opção, mas levando em consideração os pareceres de médicos, após uma operação para desobstruir uma artéria do coração, que apresentava 80% de entupimento. O problema foi detectado no início do ano, após todo o elenco do Juventus passar por uma bateria de exames cardíacos. Desde então, o zagueiro treinava em separado, aguardando os resultados de testes e contraprovas.
“Foi constatado pela primeira vez no dia 17 de janeiro. Um ano atrás eu fiz um exame, num Instituto do Coração respeitado no Brasil todo, que não apontou nada. Inicialmente a suspeita era de um falso positivo, mas a cintilografia miocárdica constatou o entupimento. Ainda havia a dúvida e fizemos o cateterismo, onde se constatou a obstrução da artéria”, relatou Acássio. “Só não aconteceu alguma coisa grave porque Deus tinha o propósito para mim”, acrescentou.
Acássio planejava jogar por mais dois anos. Depois iria se aposentar dos gramados e investir na carreira de treinador. Porém, o problema cardíaco acabou antecipando seus planos. Inicialmente, pretendia descansar até o fim da Copa do Mundo, junto com sua família. Mas, atendendo a um chamado de Milton do Ó, ainda ontem (3) ingressou na comissão técnica do Juventus, com a missão de ajustar o setor defensivo, um gargalo da equipe na primeira fase do Campeonato Catarinense.
“Vivi no futebol profissional por 17 anos. Sabia que um dia iria passar, mas queria dar um tempo para mim mesmo, para refrescar a cabeça depois do susto que eu passei. Como um amante do futebol e tendo contrato com o Juventus, num momento onde o clube está perto de iniciar um importante hexagonal, fiquei pensando na noite passada”, informou Acássio ao aceitar o convite, enaltecendo que o presidente interino Jefferson de Oliveira já havia prometido honrar o seu contrato até o fim.
“Para mim é um orgulho poder ajudar a equipe que eu gosto e que me acolheu de braços abertos. Aceitei o convite do Milton do Ó e o nosso objetivo é manter o Juventus na Primeira Divisão, continuando com esse projeto para que as coisas só venham a melhorar no clube e que o time venha a ganhar mais credibilidade com o torcedor e com o empresariado, para que todo o povo jaraguaense possa ter os seus finais de semana de alegria”, concluiu.
“Estou curado, porque coloquei um extensor. Mas só de estar vivo hoje, tenho que agradecer a Deus”, concluiu Acássio, o ‘Coração Valente’ do Estádio João Marcatto. Um caráter acima da média no Mundo do futebol e um ídolo do Juventus, do Vocem (SP), do Fraiburgo (SC), do Caçador (SC), do Nacional (PR), do Internacional (SC), do São José (SC), do América (SP), do Itaporã (MS), do Iraty (PR), do Ceilândia (DF), do Sorriso (MS), do Araguaia (MS), do Sertãozinho (SP), da Portuguesa Londrinense (PR), do Paranavaí (PR), do Operário Ferroviário (PR), entre outros.
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