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Futebol

Futebol: Massarandubense foi testemunha ocular do Maracanazo [via JDV]

© Flavio Jose Brugnago (Jornal do Vale do Itapocu)

© Flavio Jose Brugnago (Jornal do Vale do Itapocu)

[Conteúdo originalmente publicado pelo Jornal do Vale do Itapocu]

Quem vê aquele senhor bonachão, calvo, 83 anos completado na terça-feira, 20 de maio, não imagina que ele foi testemunha de um acontecimento que marcou a história esportiva do Brasil, de forma negativa. Roland Loppnow foi integrante do Batalhão da Guarda Presidencial, no Rio de Janeiro, onde ficou um ano e dois meses como militar e viu de perto o Brasil perder o título da 4ª Copa Mundial de Futebol para o Uruguai, dentro do Maracanã e de assistir meses depois, a pouco mais de dez metros do palanque, a posse de Getúlio Vargas como presidente do Brasil, no Palácio do Catete, em janeiro de 1951.

A informação de que Roland Loppnow teria participado da Copa do Mundo de 1950 dentro do majestoso Maracanã chegou à redação faz alguns meses. Ele concordou em falar e dada à proximidade da segunda Copa do Mundo no Brasil, 64 anos depois, recebeu a reportagem na manhã de sexta-feira (16) em sua residência, no centro de Massaranduba, ao lado da mulher Traudi, quando fez revelações sobre a sua história e de fatos que marcaram a sua vida. Roland é natural de Benedito Novo de onde saiu para servir o exército no Batalhão da Guarda Presidencial em São Cristóvão, no Rio de Janeiro.

Os brasileiros do Sul eram os preferidos para formar a Guarda Presidencial pelo porte físico avantajado, disciplina e organização. Roland seguiu com outros colegas ao Rio de Janeiro, de trem, partindo de Joinville. “Andamos três dias e três noites de Maria Fumaça até o Rio, que era a Capital do Brasil”, conta. Lá permaneceu durante um ano e dois meses antes de dar baixa. O motivo da extensão do tempo regular no Exército foi à posse do presidente Getúlio Vargas, no dia 31 de janeiro de 1951, permanecendo no comando do Brasil até a sua morte, por suicídio, em 24 de agosto de 1954.

Roland como integrante do Batalhão da Guarda Presidencial, que é a guarda de honra, esteve muito próximo do presidente Getúlio Vargas no dia da posse. “Talvez uns 10 ou 12 metros de distância”, calcula. Como soldado, cumpriu o ritual e ficou imóvel durante toda a cerimônia de posse de Getúlio como o 17º Presidente da República do Brasil.

Como soldado Roland foi segurança dentro do campo no dia fatídico

© Roland Loppnow

© Roland Loppnow

Depois de 64 anos, o Brasil volta a ser anfitrião de uma Copa do Mundo. De parecido, só os atrasos na entrega dos estádios – que apesar de já serem a marca desta Copa, também aconteceram em 1950. Mas, o que tem Roland Loppnow a ver com isso? Tem muito. Ele participou da inauguração do maior estádio do mundo no dia 16 de junho de 1950, quando a Seleção Paulista venceu a Seleção Carioca por 3 x 1. Estava de serviço como integrante da Guarda Presidencial.

No dia da decisão da Copa do Mundo de 1950, quando participaram 13 seleções, a primeira após 2ª Guerra Mundial, o soldado Roland estava dentro do Maracanã fazendo segurança, podendo circular livremente no entorno do gramado enquanto a bola rolava. Segundo conta, o futebol nunca foi o seu forte e como jovem saído do interior de Santa Catarina, numa época em que a comunicação era difícil e as correspondências, que demoravam semanas, era o meio mais comum de as pessoas se comunicarem. O futebol não era a “paixão nacional” como é hoje.

O Brasil era uma festa só porque a seleção canarinho estava na iminência de conquistar o primeiro título mundial no futebol. Um empate bastava, mas aos 79 minutos de jogo, o uruguaio Ghiggia mudaria a história, virando o placar para 2 x 1, dando o título à seleção celeste. A partida é considerada uma das maiores decepções da história do futebol brasileiro. Praticamente todo o Maracanã chorava pela derrota. Roland diz que o jogo, em termos de segurança, foi tranquilo, assim como foi o pós-jogo. Ele se lembra de que o Maracanã não estava totalmente pronto, nada diferente de 2014, a poucas semanas da abertura do Mundial da Fifa.

“De lá seguimos para o Batalhão com a missão cumprida”, diz. No Brasil e no Rio de Janeiro, em vez de comemoração, era lamentação e tristeza pela perda do título. Tendo vivido como testemunha histórica do “Maracanaço”, compara a época como tranquila, ao contrário do tempo atual de agitação e protestos estourando em todos os cantos do Brasil, muitos tendo como mote principal os gastos com a Copa do Mundo e o “padrão Fifa” em detrimento das questões básicas reclamadas pela população brasileira. Loppnow se sente um privilegiado por ter sido um dos atores de um momento da história brasileira, na decisão da Copa do Mundo de 1950 e meses depois, da posse de Getúlio Vargas pela segunda vez como governante do País.

Paixão pela fotografia iniciou já no tempo de exército no Rio de Janeiro

Roland Loppnow era ordenança do 1º Tenente Edir Duarte Nunes Troz, o que lhe possibilitava algumas “regalias” pela proximidade do oficial, como percorrer a serviço diversas repartições no Rio de Janeiro e também de conhecer a então Cidade Maravilhosa com todos os seus encantos e romantismo no início da década de 1950, quando estava de licença das suas funções no exército.

Ele aproveitava para fotografar locais que outros colegas soldados não tinham oportunidade devido às obrigações com o serviço. Durante décadas, a velha máquina fotográfica Goldy foi a sua companheira de registro fotográfico. Ela ainda existe, está um pouco enferrujada pelo tempo e não funciona mais. Outra máquina, da marca Miranda, também faz parte do acervo particular de Roland. Ele faz questão de mostrar, assim como centenas de fotos que tirou na época no Rio de Janeiro. É uma recordação que o tempo não apaga.

O hobby pela fotografia data de mais de 60 anos. Hoje também a filmagem é um hobby que gosta de cultivar “para deixar registrados os bons momentos”. A história de Roland em Massaranduba seu deu com o casamento com Zita, com quem conviveu por mais de 45 anos. É pessoa muito conhecida na cidade. Teve loja de material elétrico por anos, faz parte do Rotary Club e mantém a residência muito bem cuidada no centro da cidade, com flores da época, a horta e também orquídeas, com as quais tem uma dedicação especial. Ele veio para a Capital Catarinense do Arroz em 1955.

Decepção em não fotografar painel do Maracanã em Montevidéu

Depois da Copa do Mundo de 1950, Roland Loppnow esteve algumas vezes no Rio de Janeiro, mas nunca teve mais oportunidade de entrar no Maracanã. No entanto, a sua decepção foi não poder fotografar no Museu do Futebol do Estádio Centenário, em Montevidéu, Uruguai, um grande painel que mostra o jogo histórico de 16 de julho de 1950, onde acompanhou dentro do Maracanã. “Por mais que insistisse ao guia, a proibição foi mantida. Ele até ficou um pouco constrangido com a minha insistência, mas como tinha muita gente, não consegui fazer o registro. Disse que estive naquele jogo histórico, dentro do campo, como soldado fazendo a segurança, o que o surpreendeu, mas assim mesmo fiquei sem fazer a foto, o que ainda hoje lamento”, disse. A imagem do painel ficou apenas na memória de Loppnow.

Números mostram diferenças entre as Copas de 1950 e 2014

Em 1950, a Copa não era nem de longe o megaevento que é hoje. O número de cidades sede, por exemplo, foram limitadas a seis: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. Em termos esportivos era também um campeonato muito menor. Em junho, desembarcarão em solo brasileiro 32 seleções de futebol.

Já a Copa de 1950, era apenas a quarta edição do Mundial, com 13 equipes. Em 2014, os estádios brasileiros serão palco para 64 jogos, de 32 seleções, divididas em 8 grupos. Em 1950, os números eram todos menores: 22 jogos, 13 seleções, 4 grupos. As seleções que participa-ram foram: Brasil, México, Iugoslávia, Suíça, Espanha, EUA, Inglaterra, Chile, Itália, Suécia, Paraguai, Bolívia e Uruguai. Destas, só as seleções de Suécia, Iugoslávia, Paraguai e Bolívia não vêm para o mundial de 2014.

Em 1950, era para serem 16 países, mas ao longo da competição as equipes da Índia, Turquia e Escócia desistiram. A decisão de Brasil e Uruguai, onde Roland Loppnow acompanhou dentro do campo do Maracanã contou com o maior público de todas as Copas: 199.854 espectadores.

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