Difícil resumir uma conversa de uma hora com Paulo Roberto de Freitas, o Bebeto de Freitas, ao espaço de uma página de jornal. Uma missão quase impossível. O homem que ajudou a mudar a história do esporte brasileiro tem muito a contar. E nós, muito a aprender com ele.
Sua visão é ampla e sua atuação no esporte também. Foi vitorioso como treinador e atleta de voleibol. No futebol, ajudou a reorganizar administrativamente o Botafogo (RJ) e o Atlético (MG).
Aos 64 anos, aposentado, passou uma semana em nossa cidade, na casa do amigo Benhur Sperotto (coordenador do voleibol do município). Sem rabo preso, não fugiu das perguntas polêmicas, seja nesta entrevista ou em conversas informais, independente da modalidade esportiva.
Na sequência abordaremos na forma de tópicos, os principais assuntos tratados durante a conversa, que ocorreu na Arena Jaraguá. Mas já adiantamos: muita coisa ficará de fora. Infelizmente!
Sobre a importação de técnicos
Sobre a importação de técnicos para as modalidades olímpicas – assunto em voga agora também no futebol –, Bebeto se mostra favorável e cita o handebol como exemplo. “Aí vem a qualidade dos técnicos, que estão em um nível superior aos nossos, em função da falta de desenvolvimento aqui no Brasil. Desenvolvimento do ponto de vista competitivo, científico, de estudo e de treino”.
Porém, alerta sobre a importância da continuidade dos trabalhos após 2016, quando o Brasil sediará os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro. “É muito mais fácil ganhar do que continuar ganhando. E continuar ganhando não é ser campeão, é continuar sendo uma potência. A Alemanha é uma potência no futebol. O Brasil é outra potência no futebol, porque tem uma bagagem para isso”.
É muito mais fácil ganhar do que continuar ganhando. E continuar ganhando não é ser campeão, é continuar sendo uma potência.
Sobre a perpetuação dos dirigentes
Bebeto bate forte na questão da perpetuação dos dirigentes no comando das entidades esportivas. Cita como exemplo seu trabalho de seis anos como presidente do Botafogo, comparando a um ciclo, que foi encerrado.
“Tirando o futebol, você não tem outro esporte que tenha campeonatos regulares em todo o Brasil. E isso não é por falta de recurso. Está tudo concentrado nas Confederações e no COB. E os dirigentes que estão lá são os mesmos há quarenta anos. Todo mundo ‘apaixonado’ por esporte. Os caras trabalham dezoito horas por dia só por paixão. A história da carochinha é mais fácil de acreditar do que nisso”, alfinetou.
“Você acha que é só sede de poder? É uma pergunta que eu deixo para você e seus leitores”.
A história da carochinha é mais fácil de acreditar do que nisso.
Sobre a infraestrutura esportiva
Na avaliação de Bebeto de Freitas, o Brasil possui uma das melhores infraestruturas esportivas do Mundo. Porém, esta é mal gerenciada. “Na minha vida profissional de 34 anos, passei dezesseis fora do Brasil. Poucos países eu conheci no Mundo com instalações esportivas espalhadas por todo o território. Qual a cidade do Brasil que não tem instalações esportivas? Se você correr este Brasil todo, vai ver os elefantes brancos. No Brasil, você tem aos montes lugares que tem tudo que você queira, mas ao mesmo tempo não tem nada”, lamentou, citando como exemplo as estruturas de clubes como as AABBs.
“Duas coisas não faltam no esporte do Brasil: recursos e infraestrutura. O que falta é, sem dúvida nenhuma, competência de fazer com que o Brasil possa se tornar uma potência Olímpica, pela qualidade dos nossos atletas e não importar atletas para participar das Olimpíadas. Se pode naturalizar um estrangeiro, vamos trazer ele para ser presidente de alguma Confederação”, esbravejou.
Duas coisas não faltam no esporte do Brasil: recursos e infraestrutura. O que falta é, sem dúvida nenhuma, competência de fazer com que o Brasil possa se tornar uma potência Olímpica.
Sobre o patrocínio aos esportes
O patrocínio esportivo é outro assunto onde Bebeto de Freitas é enfático. Para ele, o principal problema está na distribuição dos recursos no esporte e não a falta de patrocínio. “O exemplo vem de cima. Em baixo, quando você chega aos municípios, as dificuldades aumentam, porque os recursos são outros, muito menores. Não é responsabilidade do empresário. É a desculpa, a muleta de todo mundo é dizer que não tem patrocínio”, afirmou.
“Não existe patrocínio. O que existe é investimento. E para investir, você tem que ter o retorno. Não é a questão do valor, mas é a questão da responsabilidade de quem está lá na frente para investir, porque ele não pode fazer caridade, não é a prioridade da empresa. O papel do empresário é desenvolver a sua empresa. O das Confederações e das Federações é desenvolver o esporte nos Estados e no Brasil”.
É a desculpa, a muleta de todo mundo é dizer que não tem patrocínio.
Sobre a importância dos clubes
Quando se fala de clubes, a realidade que Bebeto aborda – citando como exemplo o voleibol – pode ser facilmente aplicada ao futebol, onde os clubes nacionais estão cada vez mais desvalorizados. “A valorização do voleibol no Brasil se deve a um clube. O Minas Tênis Clube é o único que nunca deixou de participar, com patrocínio, sem patrocínio. É um marco importante do nosso voleibol. Outro que sempre manteve foi o Pinheiros”, citou.
“Mas a própria Confederação não incentivou os clubes, porque não interessava a ela ter os problemas do futebol. Porque se você tentar tirar um jogador do Grêmio de uma final de campeonato, você não tira”, citando o fato de muitas vezes os clubes perderem seus principais atletas para a Seleção Brasileira de voleibol, na reta decisiva das competições caseiras.
“É mais importante investir na Seleção Brasileira do que no voleibol? Qual o papel da Confederação? Ser campeão do Mundo todo ano ou o desenvolvimento do seu esporte no Brasil todo? Nós temos o voleibol do Brasil, que são as Seleções Brasileiras, e o voleibol no Brasil”, analisou, mostrando uma realidade bem próxima da vivida no futebol.
“Se todos os jogadores brasileiros, de vários níveis, viessem de volta do exterior para o Brasil, nós não teríamos equipe para nenhum deles”, concluiu.
Nós temos o voleibol do Brasil, que são as Seleções Brasileiras, e o voleibol no Brasil.