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Ciclismo

Ciclista cega de Jaraguá do Sul é exemplo de superação e busca o título no Parajasc

Ana Luísa Sehn (D) compete ao lado da guia Simone Dalsochio | Foto: Lucas Pavin/Avante! Esportes

A palavra limitação tem um significado diferente para Ana Luísa dos Santos Sehn. Andar de bicicleta já seria improvável para um cego. Participar então de uma grande competição como os Jogos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc) pode parecer impossível.

Mas a paixão pelo ciclismo superou qualquer dificuldade enfrentada na vida e hoje ela está entre os 27 atletas que representam Jaraguá do Sul no maior evento do paradesporto estadual, que iniciou na quarta-feira (8) em cinco municípios.

A jaraguaense de 27 anos nasceu prematura de seis meses e um problema quando ainda estava na incubadora do hospital acabou a deixando sem enxergar completamente logo nos primeiros dias de vida.

Mas aquilo que poderia servir de lamentação foi transformado em superação com o passar do tempo. Buscando a independência, ela aprendeu a pedalar ao ganhar a primeira bicicleta, com apenas 4 anos.

O gosto pela “magrela” foi imediato e nunca foi preciso de ajuda, já que o ‘mapa mental’ sempre foi uma de suas qualidades, tornando as pedaladas em uma rotina diária desde criança.

Porém, o que ela não poderia imaginar é que, anos depois, aquilo que era apenas uma brincadeira se transformaria num espirito competitivo.

Foto: Lucas Pavin/Avante! Esportes

Através de um professor que conheceu na AJIDEVI (Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais), Ana Luísa passou a se adaptar de uma simples amante para uma atleta de ciclismo.

Até que, em 2018, surgiu a oportunidade de participar do primeiro Parajasc, logo em Jaraguá do Sul. A esperança de um bom resultado era pequena, já que conseguiu uma pilota uma semana antes dos Jogos.

Mas a jaraguaense voltou a quebrar paradigmas e garantiu uma medalha de prata naquela que foi sua primeira e única competição até hoje.

Passados três anos e mais bem preparada por conta de uma rotina com seis treinos semanais, intercalados entre a ‘bike’ e academia, a ciclista espera levar Jaraguá do Sul ao lugar mais alto do pódio no próximo sábado (11), em Navegantes.

“Que venha o lugar mais alto do pódio. Sem treino, sem nada fiquei em segundo, imagina treinando bastante. Espero ser campeã”, afirma.

“Ganhando ou não, a satisfação é muito grande, até porque não é qualquer um que tem a oportunidade de estar participando de uma competição ou ter uma pilota disponível. Todos que querem participar do esporte deveriam ter essa oportunidade e infelizmente muitos não tem. Para mim é muito bom e só tenho a agradecer”, finaliza.

A guia e sua história de superação 

Sem disputar a última edição do Parajasc em 2019, Ana Luísa decidiu retornar a competição na atual temporada e passou a procurar uma guia em Jaraguá do Sul.

Através de um grupo no WhatsApp conheceu Simone Dalsochio, de 45 anos, que curiosamente também carrega sua própria história de determinação.

O sedentarismo levou a microempreendedora a obesidade e ela achou no ciclismo a atividade física ideal para perder peso. De 2018 para cá, foram 30kg eliminados, a autoestima renovada e o desejo ainda maior de ajudar o próximo, como no caso de Ana Luísa.

Foto: Lucas Pavin/Avante! Esportes

Formada em pedagogia e com experiência na questão de instruir pessoas, Simone aceitou o convite para ter a primeira experiência em guiar uma atleta cega.

O primeiro passo foi adaptação da ‘bike’. Depois, adquiriu conhecimento através de leitura e alguns vídeos de pilotos na internet. Mas segundo ela, tudo foi facilitado pelas capacidades da ‘aluna’.

“Tive uma preocupação bem grande e estava bem apreensiva no início, mas quando a Ana subiu na bicicleta foi uma maravilha. Ela tem muito equilíbrio e sensibilidade que muitas vezes nem preciso avisar a direção. Pedalar é bom, mas pedalar com a Ana é ainda melhor. É um presente que ela está me dando e um aprendizado a cada dia”, conta.

Com ritmo de treinos intensos desde setembro, a pilota se mostra confiante para o Parajasc e já projeta a participação em competições nacionais em 2022.

“Vamos buscar uma colocação bem bacana (no Parajasc). Não sabemos das adversárias, temos pouquíssimas informações, mas vamos dar o nosso melhor. E se a Ana estiver disposta vamos para outras competições no ano que vem e trazer mais troféus”, declara.

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