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Futebol: Arbitragem feminina, um cartão vermelho no preconceito [+áudio]

© Henrique Porto (Agência Avante!)

© Henrique Porto (Agência Avante!)

A atual edição do Campeonato Varzeano de Jaraguá do Sul entrará para a história por dois motivos. Um deles é o recorde de equipes participantes, com 40 concorrentes na primeira fase. Outro é a abertura que está sendo dada para a arbitragem feminina, assunto em alta no momento no Brasil.

Polêmicas à parte, por aqui a situação é bem mais tranquila para as ex-jogadoras Charly Wendy Straub Deretti e Luize Sauer Ribeiro, pioneiras da vez, que encontraram na arbitragem uma forma de se manterem próximas da sua maior paixão, o futebol.

Charly é jaraguaense e chegou a defender as cores do Olympya por duas temporadas. Luize é gaúcha de Sananduva (RS). Se conheceram em Osasco (SP), onde defendiam a equipe de futsal da cidade. Acabaram iniciando na arbitragem quase juntas e também juntas chegaram à Jaraguá do Sul, após passarem em um concurso da Polícia Militar.

Conheça a seguir um pouco mais da história dessas duas pioneiras da bola, cujo trabalho vem sendo bem recebido pelos atletas e dirigentes, apesar da desconfiança inicial e natural, afinal de contas, trata-se de duas desbravadoras do apito.

Charly, sempre em cima do lance

© Henrique Porto (Agência Avante!)

© Henrique Porto (Agência Avante!)

A árbitra Charly já atuou em dois jogos no Varzeano. Bem condicionada fisicamente (trabalha com ginástica laboral no SESI), é enérgica e está sempre em cima do lance, fato que inibe grande parte das reclamações dos atletas.

“Se você estiver em cima do lance, inibe as críticas, pois consegue ver e entender melhor a jogada, errando menos”, reconheceu Charly. “A cada jogo, a cada final de semana que a gente sai para o trabalho, é um desafio. E é uma conquista quando saímos do campo sendo elogiadas”, acrescentou.

Ela iniciou na arbitragem em Blumenau, quando atuava no futsal da cidade. Depois, em Criciúma, começou a levar o ‘hobby’ mais a sério. Já em Osasco, foi convidada a arbitrar no campo, em 2011, onde acabou se interessando e passou a levar ainda com mais seriedade o assunto, estudando as regras e conhecendo melhor o contexto, inclusive o fora de campo. 

Por aqui, seu trabalho vem tendo boa aceitação. Porém, sempre existem pessoas que não aceitam ou não estão preparadas para as mudanças. “A princípio não tivemos nenhuma rejeição. Teve um jogo só, onde tive problema com um técnico, em Guaramirim. Ele falou muita coisa e eu não tolero. Sempre aviso no início das partidas, que não tolero o desrespeito. Ele me desrespeitou e eu o adverti, mandando-o para fora de campo”, relatou.

Segundo Charly, a desconfiança com relação ao seu trabalho costuma acabar logo no primeiro jogo. “Os atletas que já atuaram comigo, me olham de outra forma. Em jogos onde as equipes ainda não me conhecem, com o meu trabalho eu consigo conquistar o respeito deles. Eles acabam vendo que não estou lá para prejudicar ninguém, mas sim para fazer o meu papel e tentar aparecer o mínimo possível”, acrescentou.

Luize, uma auxiliar de rigidez militar

Assim como Charly, Luize veio para Jaraguá do Sul após ser aprovada em um concurso da Polícia Militar. Ao contrário da amiga, segue na corporação. Chegou à arbitragem em 2012, por intermédio de Charly, que já atuava na Liga de Osasco. Porém, preferiu focar na função de auxiliar.

“Não gosto de apitar, só bandeirar mesmo. Já tentei em jogo de menores, mas não gostei”, afirmou. Sobre seus planos na arbitragem, Luize não tem ambições. “Faço por gostar de futebol. É um jeito de continuar no meio”, informou a auxiliar. 

Com relação à receptividade em campo, conta que notou um receio inicial, mas acredita que aos poucos os atletas vão aceitando a ideia. “No começo dá para perceber que os jogadores ficam receosos. Mas depois que observam que a gente também entende e sabe a regra, elas vão se soltando e ficando mais confiantes na arbitragem”, ponderou a Soldado Ribeiro.

Atletas aprovam a novidade

Por coincidência, os dois jogos onde Charly atuou no Campeonato Varzeano foram da equipe ZEC, uma das surpresas da disputa. Ela deixou uma boa impressão nos atletas, como no caso do atacante Fagundes. “Foi o segundo jogo nosso que ela apitou. Em ambos foi muito bem, com atitudes firmes, sem deixar se abater por ser mulher. Muito bom mesmo”, elogiou o artilheiro.

FME defende a inovação

Na Fundação Municipal de Esportes e Turismo (FME), entidade que organiza o Varzeano, o sucesso da arbitragem feminina vem sendo comemorado. “Buscamos a renovação na arbitragem e isso inclui incentivar as meninas que desempenham um bom trabalho”, informou o coordenador Marquinhos Ranucci. “Não temos restrição de gênero, mas sim de competência. E essas meninas têm uma grande competência”, reconheceu.

Esse respaldo da FME encoraja Charly a convidar outras mulheres para serem árbitras ou auxiliares. “Não vai ser fácil, como em nenhum lugar é. É preciso ter coragem e não ter medo de errar. Se tiver vontade e gostar do que faz, vai fazer bem feito”, incentivou.

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