O futebol do Vale do Itapocu ainda é um território pouco ‘habitado’ por mulheres. Não é mais uma cena rara ver árbitras, auxiliares e mesárias nos jogos. Porém, encontrar técnicas ou dirigentes é algo tão difícil quanto avistar uma ‘mosca branca’. Uma realidade que Sônia Wajand de Oliveira, mesmo sem querer, está ajudando a mudar.
E olha que o futebol entrou em sua vida por acaso. Foi por causa do filho, que queria inscrever um time no último Campeonato Varzeano, mas precisava de dinheiro e de alguém responsável. “Para não deixar ele se envolver com más companhias, resolvemos abraçar a causa. E como o time levaria o nome da empresa, decidimos acompanhar de perto”, relembrou.
Sônia e seu marido, Luiz (que atua como treinador), são proprietários de uma empresa que atua em treinamentos de segurança do trabalho. Tal qual nos cursos que promovem, decidiram levar para a equipe a rigidez e a disciplina. “Como não entendia muito da parte futebolística, fui entrando aos poucos, tentando colocar disciplina e organização nos garotos. Mas de nada adiantaria se eles não aceitassem a proposta. O barco iria afundar”, informou, dividindo os méritos do sucesso dentro de campo com os garotos (a STB foi uma das surpresas do Varzeano no ano passado).
Aos poucos, Sônia foi se envolvendo de verdade com o clube e hoje executa diversas funções como supervisora, massagista, assessora de imprensa, psicóloga e, em alguns casos, treinadora, dando ‘pitacos’ na escalação e nas alterações do marido. É a ‘Dona Presidenta’, como brincam os atletas. “No começo acredito que tenha sido constrangedor para eles ter uma mulher dando ordens. Mas depois eles aceitaram, pois viram que as coisas começaram a dar certo”, disse.
E quando viu sua equipe prejudicada fora de campo, Sônia virou advogada também, arregaçando as mangas e revertendo uma decisão que eliminava o time do Campeonato da Segunda Divisão, no ano passado. “Queriam nos tirar seis pontos e não aceitávamos. Estávamos sendo injustiçados. Não entendo de advocacia e fui atrás de alguém para que me acompanhasse. Levamos toda a documentação e provamos que, perante o CBJD, poderíamos ser apenados no máximo em três pontos”, relembrou.
Ela faz questão que tudo no clube seja decidido em consenso. Foi assim na inscrição para o Varzeano deste ano, quando quatro atletas precisariam ficar de fora. “Temos vinte e seis atletas no elenco, mas no Varzeano só podem vinte e dois. Ou o time chegava a um consenso ou não disputaríamos. E esse é um dos segredos do sucesso da equipe”, afirmou.
Enquanto a STB se prepara para a competição, treinando de duas a três vezes por semana, Sônia se esforça nos bastidores para oferecer a melhor estrutura possível aos atletas. Corre atrás de amistosos, treinadores e novidades que movimentem o caixa do time, que tem uniformes de jogo, de passeio, e se desloca para os jogos em uma van. Durante os jogos, os atletas têm à disposição água, isotônico e bananas. Neste ano a STB assumiu também a manutenção do Estádio Guilherme Tribess, onde treina e mandará seus jogos.
Com tanto esforço, o reconhecimento já começa a aparecer. “Teve um jogo em que um rapaz comentou: ‘você viu, a mulher gritou e eles obedeceram’. É legal ver o pessoal reconhecendo. Não sou uma técnica de formação, mas quando vejo que tem alguma coisa errada, eu grito”, brincou.
Porém, seu maior objetivo em todo esse trabalho é dos mais nobres e remete ao motivo que levou Sônia a se envolver no futebol. “Nosso intuito é atrair as famílias de volta aos campos e ao futebol”, concluiu a dirigente multitarefa. Uma missão que, se depender de seu empenho, não tardará a ter sucesso.